Sua fotografia molhou os meus olhos
Meus olhos molharam sua fotografia
Não sei se era apenas saudade
Ou vigança que estavam tramando.
A resposta talvez esteja
Naquele retrato molhado
Onde antes você sorria
E, agora parece que está chorando.
Sob a caneta que a mão empalma
Sob o olhar que a lágrima umedece
O sentimento toma a alma
O amor segue pela estrada
E o poeta se entristece.
Os teus olhos são o oposto do céu
Duas luas negras, suspensas em alvos firmamentos.
Suas pálpebras são nuvens
A cobrirem os teus sinceros sentimentos.
O amor é chama viva
O coração, uma brasa incandescente.
A saudade, o vento forte que ativa
E acende tudo novamente.
Quem dera
Seus olhos ainda brilharem por minha causa
Quisera
O tempo dar uma pausa...por nós
Pudera
O tempo já não espera e os olhos
não brilham mais.
(Serginho Poeta)
domingo, 21 de dezembro de 2008
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Cuidado com o espaço entre a realidade e o sonho!
De cabeça pra baixo,
as árvores, os prédios, a vida!
Toda forma refletida no cinza metálico do rio
ganha outra dimensão.
O cheiro forte, o cheiro de morte, percorre
o caminho que leva o trabalhador pra penitência.
A ausência de sentido, a improvavel mudança,
o fone no ouvido, a distância.
As mesmas pessoas no vagão, as mesmas que vejo cotidianamente,
mas nunca conversei, cada um no seu mundo essa é a lei.
Ouso as mesmas palavras de ordem: Não fique na região das portas!!
Não Fume!! Não coloque os pés nos assentos!!
Cuidado com o espaço entre o trem e plartaforma!
A massa se desloca acelerada, o atraso, a porta fechada,
o corpo cansado, o tempo, o atual momento,
o nada que reinvento todo dia.
A alegria de final de semana, de fim de mês
a repetição de tudo mesmo que de forma diferente
sigo assim à jogar sementes no asfalto...desesperadamente!!
Por Daniel Fagundes
as árvores, os prédios, a vida!
Toda forma refletida no cinza metálico do rio
ganha outra dimensão.
O cheiro forte, o cheiro de morte, percorre
o caminho que leva o trabalhador pra penitência.
A ausência de sentido, a improvavel mudança,
o fone no ouvido, a distância.
As mesmas pessoas no vagão, as mesmas que vejo cotidianamente,
mas nunca conversei, cada um no seu mundo essa é a lei.
Ouso as mesmas palavras de ordem: Não fique na região das portas!!
Não Fume!! Não coloque os pés nos assentos!!
Cuidado com o espaço entre o trem e plartaforma!
A massa se desloca acelerada, o atraso, a porta fechada,
o corpo cansado, o tempo, o atual momento,
o nada que reinvento todo dia.
A alegria de final de semana, de fim de mês
a repetição de tudo mesmo que de forma diferente
sigo assim à jogar sementes no asfalto...desesperadamente!!
Por Daniel Fagundes
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Canta América
Não o canto de mentira e falsidade
que a ilusão ariana
cantou para o mundo
na conquista do ouro
nem o canto da supremacia dos derramadores de sangue
das utópicas novas ordens
de napoleônicas conquistas
mas o canto da liberdade dos povos
e do direito do trabalhador...
(Solano Trindade)
que a ilusão ariana
cantou para o mundo
na conquista do ouro
nem o canto da supremacia dos derramadores de sangue
das utópicas novas ordens
de napoleônicas conquistas
mas o canto da liberdade dos povos
e do direito do trabalhador...
(Solano Trindade)
Tem gente com fome
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Piiiiii
Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dzier
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
Mas o freio de ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuuu
(Solano Trindade)
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Piiiiii
Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dzier
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
Mas o freio de ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuuu
(Solano Trindade)
Gravata Colorida
Quando eu tiver bastante pão
para meus filhos
para minha amada
pros meus amigos
e pros meus vizinhos
quando eu tiver
livros para ler
então eu comprarei
uma gravata colorida
larga
bonita
e darei um laço perfeito
e ficarei mostrando
a minha gravata colorida
a todos os que gostam
de gente engravatada...
(Solano Trindade)
para meus filhos
para minha amada
pros meus amigos
e pros meus vizinhos
quando eu tiver
livros para ler
então eu comprarei
uma gravata colorida
larga
bonita
e darei um laço perfeito
e ficarei mostrando
a minha gravata colorida
a todos os que gostam
de gente engravatada...
(Solano Trindade)
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
O tempo que passou
O tempo que passou me deixou sem tempo
e correr atrás de mim mesmo passou à ser meu tormento
meu passa-tempo predileto "o retransfigurar-se",
"o recontextualizar-se", "o me ser de novo".
Nessa busca separo-me:
-Um pra cada lado!! Vai, vai!!
Trago-me à força muitas vezes,
reabro cicatrizes,
sigo numa pilhagem
que ao mesmo tempo suja e purifica.
Um cata-vento ao avesso, trazendo de volta tudo que perdi
tudo que o tempo me roubou...
Quero de volta mesmo que não mereça, mesmo que não precise,
quero acumular-me em mim, pra me refazer, me reconhecer.
Envelhecendo no processo de compreender-me à fundo
vou a todo segundo redescobrindo-me e desaparecendo
pra depois de tudo abraçar a morte e viver-me
deixando que meu crepúsculo encante a aurora do dia seguinte.
(Daniel Fagundes - Vivenda Poética)
e correr atrás de mim mesmo passou à ser meu tormento
meu passa-tempo predileto "o retransfigurar-se",
"o recontextualizar-se", "o me ser de novo".
Nessa busca separo-me:
-Um pra cada lado!! Vai, vai!!
Trago-me à força muitas vezes,
reabro cicatrizes,
sigo numa pilhagem
que ao mesmo tempo suja e purifica.
Um cata-vento ao avesso, trazendo de volta tudo que perdi
tudo que o tempo me roubou...
Quero de volta mesmo que não mereça, mesmo que não precise,
quero acumular-me em mim, pra me refazer, me reconhecer.
Envelhecendo no processo de compreender-me à fundo
vou a todo segundo redescobrindo-me e desaparecendo
pra depois de tudo abraçar a morte e viver-me
deixando que meu crepúsculo encante a aurora do dia seguinte.
(Daniel Fagundes - Vivenda Poética)
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Canto dos Palmares
Eu canto aos Palmares
sem inveja de Virgílio, de Homero e de Camões
porque o meu canto é o grito de uma raça
em plena luta pela liberdade!
Há batidos fortes
de bombos e atabaques em pleno sol
Há gemidos nas palmeiras
soprados pelos ventos
Há gritos nas selvas
invadidas pelos fugitivos...
Eu canto aos Palmares
odiando opressores
de todos os povos
de todas as raças
de mão fechada contra todas as tiranias!
Fecham minha boca
mas deixam abertos os meus olhos
Maltratam meu corpo
minha consciência se purifica
Eu fujo das mãos do maldito senhor!
Meu poema libertador
é cantado por todos, até pelo rio.
Meus irmãos que morreram
muitos filhos deixaram
e todos sabem plantar e manejar arcos
Muitas amadas morreram
mas muitas ficaram vivas,
dispostas a amar
seus ventres crescem e nascem novos seres.
O opressor convoca novas forças
vem de novo ao meu acampamento...
Nova luta.
As palmeiras ficam cheias de flechas,
os rios cheios de sangue,
matam meus irmãos, matam minhas amadas,
devastam os meus campos,
roubam as nossas reservas;
tudo isto para salvar a civilização e a fé...
Nosso sono é tranqüilo
mas o opressor não dorme,
seu sadismo se multiplica,
o escravagismo é o seu sonho
os inconscientes entram para seu exército...
Nossas plantações estão floridas,
Nossas crianças brincam à luz da lua,
nossos homens batem tambores,
canções pacíficas,
e as mulheres dançam essa música...
O opressor se dirige aos nossos campos,
seus soldados cantam marchas de sangue.
O opressor prepara outra investida,
confabula com ricos e senhores,
e marcha mais forte,
para o meu acampamento!
Mas eu os faço correr...
Ainda sou poeta
meu poema levanta os meus irmãos.
Minhas amadas se preparam para a luta,
os tambores não são mais pacíficos,
até as palmeiras têm amor à liberdade...
Os civilizados têm armas e dinheiro,
mas eu os faço correr...
Meu poema é para os meus irmãos mortos.
Minhas amadas cantam comigo,
enquanto os homens vigiam a terra.
O tempo passa
sem número e calendário,
o opressor volta com outros inconscientes,
com armas e dinheiro,
mas eu os faço correr...
Meu poema é simples,
como a própria vida.
Nascem flores nas covas de meus mortos
e as mulheres se enfeitam com elas
e fazem perfume com sua essência...
Meus canaviais ficam bonitos,
meus irmãos fazem mel,
minhas amadas fazem doce,
e as crianças lambuzam os seus rostos
e seus vestidos feitos de tecidos de algodão
tirados dos algodoais que nós plantamos.
Não queremos o ouro porque temos a vida!
E o tempo passa, sem número e calendário...
O opressor quer o corpo liberto,
mente ao mundo
e parte para prender-me novamente...
- É preciso salvar a civilização,
Diz o sádico opressor...
Eu ainda sou poeta e canto nas selvas
a grandeza da civilização
a Liberdade!
Minhas amadas cantam comigo,
meus irmãos batem com as mãos,
acompanhando o ritmo da minha voz....
- É preciso salvar a fé,
Diz o tratante opressor...
Eu ainda sou poeta e canto nas matas
a grandeza da fé a Liberdade...
Minhas amadas cantam comigo,
meus irmãos batem com as mãos,
acompanhando o ritmo da minha voz....
Saravá! Saravá!
repete-se o canto do livramento,
já ninguém segura os meus braços...
Agora sou poeta,
meus irmãos vêm comigo,
eu trabalho, eu planto, eu construo
meus irmãos vêm ter comigo...
Minhas amadas me cercam,
sinto o cheiro do seu corpo,
e cantos místicos sublimizam meu espírito!
Minhas amadas dançam,
despertando o desejo em meus irmãos,
somos todos libertos, podemos amar!
Entre as palmeiras nascem
os frutos do amor dos meus irmãos,
nos alimentamos do fruto da terra,
nenhum homem explora outro homem...
E agora ouvimos um grito de guerra,
ao longe divisamos as tochas acesas,
é a civilização sanguinária que se aproxima.
Mas não mataram meu poema.
Mais forte que todas as forças é a Liberdade...
O opressor não pôde fechar minha boca,
nem maltratar meu corpo,
meu poema é cantado através dos séculos,
minha musa esclarece as consciências,
Zumbi foi redimido...
(Solano Trindade)
sem inveja de Virgílio, de Homero e de Camões
porque o meu canto é o grito de uma raça
em plena luta pela liberdade!
Há batidos fortes
de bombos e atabaques em pleno sol
Há gemidos nas palmeiras
soprados pelos ventos
Há gritos nas selvas
invadidas pelos fugitivos...
Eu canto aos Palmares
odiando opressores
de todos os povos
de todas as raças
de mão fechada contra todas as tiranias!
Fecham minha boca
mas deixam abertos os meus olhos
Maltratam meu corpo
minha consciência se purifica
Eu fujo das mãos do maldito senhor!
Meu poema libertador
é cantado por todos, até pelo rio.
Meus irmãos que morreram
muitos filhos deixaram
e todos sabem plantar e manejar arcos
Muitas amadas morreram
mas muitas ficaram vivas,
dispostas a amar
seus ventres crescem e nascem novos seres.
O opressor convoca novas forças
vem de novo ao meu acampamento...
Nova luta.
As palmeiras ficam cheias de flechas,
os rios cheios de sangue,
matam meus irmãos, matam minhas amadas,
devastam os meus campos,
roubam as nossas reservas;
tudo isto para salvar a civilização e a fé...
Nosso sono é tranqüilo
mas o opressor não dorme,
seu sadismo se multiplica,
o escravagismo é o seu sonho
os inconscientes entram para seu exército...
Nossas plantações estão floridas,
Nossas crianças brincam à luz da lua,
nossos homens batem tambores,
canções pacíficas,
e as mulheres dançam essa música...
O opressor se dirige aos nossos campos,
seus soldados cantam marchas de sangue.
O opressor prepara outra investida,
confabula com ricos e senhores,
e marcha mais forte,
para o meu acampamento!
Mas eu os faço correr...
Ainda sou poeta
meu poema levanta os meus irmãos.
Minhas amadas se preparam para a luta,
os tambores não são mais pacíficos,
até as palmeiras têm amor à liberdade...
Os civilizados têm armas e dinheiro,
mas eu os faço correr...
Meu poema é para os meus irmãos mortos.
Minhas amadas cantam comigo,
enquanto os homens vigiam a terra.
O tempo passa
sem número e calendário,
o opressor volta com outros inconscientes,
com armas e dinheiro,
mas eu os faço correr...
Meu poema é simples,
como a própria vida.
Nascem flores nas covas de meus mortos
e as mulheres se enfeitam com elas
e fazem perfume com sua essência...
Meus canaviais ficam bonitos,
meus irmãos fazem mel,
minhas amadas fazem doce,
e as crianças lambuzam os seus rostos
e seus vestidos feitos de tecidos de algodão
tirados dos algodoais que nós plantamos.
Não queremos o ouro porque temos a vida!
E o tempo passa, sem número e calendário...
O opressor quer o corpo liberto,
mente ao mundo
e parte para prender-me novamente...
- É preciso salvar a civilização,
Diz o sádico opressor...
Eu ainda sou poeta e canto nas selvas
a grandeza da civilização
a Liberdade!
Minhas amadas cantam comigo,
meus irmãos batem com as mãos,
acompanhando o ritmo da minha voz....
- É preciso salvar a fé,
Diz o tratante opressor...
Eu ainda sou poeta e canto nas matas
a grandeza da fé a Liberdade...
Minhas amadas cantam comigo,
meus irmãos batem com as mãos,
acompanhando o ritmo da minha voz....
Saravá! Saravá!
repete-se o canto do livramento,
já ninguém segura os meus braços...
Agora sou poeta,
meus irmãos vêm comigo,
eu trabalho, eu planto, eu construo
meus irmãos vêm ter comigo...
Minhas amadas me cercam,
sinto o cheiro do seu corpo,
e cantos místicos sublimizam meu espírito!
Minhas amadas dançam,
despertando o desejo em meus irmãos,
somos todos libertos, podemos amar!
Entre as palmeiras nascem
os frutos do amor dos meus irmãos,
nos alimentamos do fruto da terra,
nenhum homem explora outro homem...
E agora ouvimos um grito de guerra,
ao longe divisamos as tochas acesas,
é a civilização sanguinária que se aproxima.
Mas não mataram meu poema.
Mais forte que todas as forças é a Liberdade...
O opressor não pôde fechar minha boca,
nem maltratar meu corpo,
meu poema é cantado através dos séculos,
minha musa esclarece as consciências,
Zumbi foi redimido...
(Solano Trindade)
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Calma minha
Hoje eu tive paz
traguei-a lentamente.
Como se não tivesse mais forças,
meu corpo relaxou-se
meus olhos se fecharam
e minha boca contorceu
num sorriso aliviado.
Achei que fosse o fim.
Acompanhado de mim mesmo
ouvi em meio ao silêncio gritante
minha ritmada respiração.
E num atento olhar pra dentro
fluindo como cachoeira
com sua queda para cima
me descobri um lago calmo
inundado só de mim!
(André Pereira)
traguei-a lentamente.
Como se não tivesse mais forças,
meu corpo relaxou-se
meus olhos se fecharam
e minha boca contorceu
num sorriso aliviado.
Achei que fosse o fim.
Acompanhado de mim mesmo
ouvi em meio ao silêncio gritante
minha ritmada respiração.
E num atento olhar pra dentro
fluindo como cachoeira
com sua queda para cima
me descobri um lago calmo
inundado só de mim!
(André Pereira)
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
CASTELÃ DA TRISTEZA
Altiva e couraçada de desdém,
Vivo sozinha em meu castelo: a Dor!
Passa por ele a luz de todo o amor ...
E nunca em meu castelo entrou alguém!
Castelã da Tristeza, vês? ... A quem? ...
– E o meu olhar é interrogador –
Perscruto, ao longe, as sombras do sol-pôr ...
Chora o silêncio ... nada ... ninguém vem ...
Castelã da Tristeza, porque choras
Lendo, toda de branco, um livro de horas,
À sombra rendilhada dos vitrais? ...
À noite, debruçada, plas ameias,
Porque rezas baixinho? ... Porque anseias? ...
Que sonho afagam tuas mãos reais?
(Florbela Espanca)
Vivo sozinha em meu castelo: a Dor!
Passa por ele a luz de todo o amor ...
E nunca em meu castelo entrou alguém!
Castelã da Tristeza, vês? ... A quem? ...
– E o meu olhar é interrogador –
Perscruto, ao longe, as sombras do sol-pôr ...
Chora o silêncio ... nada ... ninguém vem ...
Castelã da Tristeza, porque choras
Lendo, toda de branco, um livro de horas,
À sombra rendilhada dos vitrais? ...
À noite, debruçada, plas ameias,
Porque rezas baixinho? ... Porque anseias? ...
Que sonho afagam tuas mãos reais?
(Florbela Espanca)
Secura
Nos lagos congelados da Rússia a água falta,
nos solos rachados dos sertões brasileiros a água falta,
nas torneiras das metrópolis Norte Americanas a água falta,
na margem dos rios africanos a água falta.
A secura resseca os lábios do mundo, a alma do homem.
O peito respira o medo, perdido na poeira do tempo,
olhos úmidos, vida dura de da dó
me resgata a prosa impura do caicó.
O pássaro negro é a atmos-fera
que faz voltas aspirais sobre os homens,
de tocaia espera o momento de devorar o que sobrou...
Mas o que sobrou?
O que essa antinatureza de pobreza corpórea, de espectro simplória,
deixará à qualquer carniceiro do futuro? À seus filhos?
Uma letra no muro despedaçado das lamentações...
O QUE FIZEMOS DE NÓS?!!!
(Daniel Fagundes - Vivenda Poética)
nos solos rachados dos sertões brasileiros a água falta,
nas torneiras das metrópolis Norte Americanas a água falta,
na margem dos rios africanos a água falta.
A secura resseca os lábios do mundo, a alma do homem.
O peito respira o medo, perdido na poeira do tempo,
olhos úmidos, vida dura de da dó
me resgata a prosa impura do caicó.
O pássaro negro é a atmos-fera
que faz voltas aspirais sobre os homens,
de tocaia espera o momento de devorar o que sobrou...
Mas o que sobrou?
O que essa antinatureza de pobreza corpórea, de espectro simplória,
deixará à qualquer carniceiro do futuro? À seus filhos?
Uma letra no muro despedaçado das lamentações...
O QUE FIZEMOS DE NÓS?!!!
(Daniel Fagundes - Vivenda Poética)
domingo, 14 de setembro de 2008
Cantigas leva-as o vento...
A lembrança dos teus beijos
Inda na minh'alma existe,
Como um perfume perdido,
Nas folhas dum livro triste.
Perfume tão esquisito
E de tal suavidade,
Que mesmo desapar'cido
Revive numa saudade!
(Florbela Espanca)
Inda na minh'alma existe,
Como um perfume perdido,
Nas folhas dum livro triste.
Perfume tão esquisito
E de tal suavidade,
Que mesmo desapar'cido
Revive numa saudade!
(Florbela Espanca)
sábado, 13 de setembro de 2008
Sobre as fitas nos cabelos de Maria...
Lá vai Maria
Andando pela rua de mão dada ao pai
trancinhas balançando pra lá e pra cá
e fitas ao vento
eternamente livres enquanto presas à Maria
Às vezes, Maria se ira e espera algo
como se iria do céu ao chão
qualquer pena ou pluma
dentre os zilhões de quilômetros da superfície da Terra
atingir-lhes os cabelos e fazê-la sentir-se especial
grande como a Grande Muralha ou
grande como palavra começada com letra grande
Há horas em que ela se cansa
e se sente como o pacato cidadão comum, desses de perfil traçado
camisa bem passada e expressão regular
e ela se sente por dentro dos sapatos dos outros
E ela diz pra si mesma que isso são assuntos de mulher e, por hora
ela é apenas menina
E, indiferente e preocupada com as coisas da vida
aqui de fora, nos resta apenas acompanhar o balançado das fitas dos seus cabelos
Entre vestidinhos, bonecas, trejeitos
Lá vai Maria
A mão à qualquer um que quiser lhe acompanhar
Pois, de guias ela não precisa
Amar, iria até ela amar...iria
quem sabe, um dia...
Pro sim e pro não
Eu gosto apenas de olhá-la
De esmerar o meu convívio com ela
De poesiar o seu simples caminhar
As vezes eu sinto ela
E, aqui de longe sinto até um pouco
que ela, sou eu.
E hajam neologismos pra Roseá-la o suficiente.
(Tiago Belizário - Um Homem em branco)
Andando pela rua de mão dada ao pai
trancinhas balançando pra lá e pra cá
e fitas ao vento
eternamente livres enquanto presas à Maria
Às vezes, Maria se ira e espera algo
como se iria do céu ao chão
qualquer pena ou pluma
dentre os zilhões de quilômetros da superfície da Terra
atingir-lhes os cabelos e fazê-la sentir-se especial
grande como a Grande Muralha ou
grande como palavra começada com letra grande
Há horas em que ela se cansa
e se sente como o pacato cidadão comum, desses de perfil traçado
camisa bem passada e expressão regular
e ela se sente por dentro dos sapatos dos outros
E ela diz pra si mesma que isso são assuntos de mulher e, por hora
ela é apenas menina
E, indiferente e preocupada com as coisas da vida
aqui de fora, nos resta apenas acompanhar o balançado das fitas dos seus cabelos
Entre vestidinhos, bonecas, trejeitos
Lá vai Maria
A mão à qualquer um que quiser lhe acompanhar
Pois, de guias ela não precisa
Amar, iria até ela amar...iria
quem sabe, um dia...
Pro sim e pro não
Eu gosto apenas de olhá-la
De esmerar o meu convívio com ela
De poesiar o seu simples caminhar
As vezes eu sinto ela
E, aqui de longe sinto até um pouco
que ela, sou eu.
E hajam neologismos pra Roseá-la o suficiente.
(Tiago Belizário - Um Homem em branco)
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Anseios
Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha cais!
Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais
Não valem o prazer duma saudade!
Tu chamas ao meu seio, negra prisão!...
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbre o brilho do luar!
Não ´stendas tuas asas para o longe...
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar!...
(Florbela Espanca)
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha cais!
Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais
Não valem o prazer duma saudade!
Tu chamas ao meu seio, negra prisão!...
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbre o brilho do luar!
Não ´stendas tuas asas para o longe...
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar!...
(Florbela Espanca)
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Um sonho de Ícaro
Leve vento,
leva esses lamentos
esses pensamentos
Leva vento, Leve...
Leve vento,
tu que és tão livre
entre o céu e a terra,
aceite o peso dessa reza.
Leve vento, leva
pelos cantos do mundo
as poucas palavras
de um sábio vagabundo.
Leve, vento leva
pois eu sempre enraizado
não darei nenhum passo.
Leve vento maroto...
Leve vento
pois na volta do mundo
eu me reinvento e voo ao teu lado,
como Ícaro ou como pássaro.
(André - Universo em translação)
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Sossega, Coração! Não desesperes!
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
(Fernando Pessoa)
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
(Fernando Pessoa)
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Folhas de Rosa
Todas as prendas que me deste, um dia,
Guardei-as, meu encanto, quase a medo,
E quando a noite espreita o pôr-do-sol,
Eu vou falar com elas em segredo...
E falo-lhes d’amores e de ilusões,
Choro e rio com elas, mansamente...
Pouco a pouco o perfume do outrora
Flutua em volta delas, docemente...
Pelo copinho de cristal e prata
Bebo uma saudade estranha e vaga,
Uma saudade imensa e infinita
Que, triste, me deslumbra e m’embriaga
O espelho de prata cinzelada,
A doce oferta que eu amava tanto,
Que reflectia outrora tantos risos,
E agora reflecte apenas pranto,
E o colar de pedras preciosas,
De lágrimas e estrelas constelado,
Resumem em seus brilhos o que tenho
De vago e de feliz no meu passado...
Mas de todas as prendas, a mais rara,
Aquela que mais fala à fantasia,
São as folhas daquela rosa branca
Que a meus pés desfolhaste, aquele dia...
(Florbela Espanca)
Guardei-as, meu encanto, quase a medo,
E quando a noite espreita o pôr-do-sol,
Eu vou falar com elas em segredo...
E falo-lhes d’amores e de ilusões,
Choro e rio com elas, mansamente...
Pouco a pouco o perfume do outrora
Flutua em volta delas, docemente...
Pelo copinho de cristal e prata
Bebo uma saudade estranha e vaga,
Uma saudade imensa e infinita
Que, triste, me deslumbra e m’embriaga
O espelho de prata cinzelada,
A doce oferta que eu amava tanto,
Que reflectia outrora tantos risos,
E agora reflecte apenas pranto,
E o colar de pedras preciosas,
De lágrimas e estrelas constelado,
Resumem em seus brilhos o que tenho
De vago e de feliz no meu passado...
Mas de todas as prendas, a mais rara,
Aquela que mais fala à fantasia,
São as folhas daquela rosa branca
Que a meus pés desfolhaste, aquele dia...
(Florbela Espanca)
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
TORTURA
Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
– E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento! ...
Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
– E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento ...
São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!
Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!
(Florbela Espanca)
A lúcida Verdade, o Sentimento!
– E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento! ...
Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
– E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento ...
São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!
Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!
(Florbela Espanca)
Eu
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida! ...
Sou aquela que passa e ninguém vê ...
Sou a que chamam triste sem o ser ...
Sou a que chora sem saber porquê ...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!
(Florbela Espanca)
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida! ...
Sou aquela que passa e ninguém vê ...
Sou a que chamam triste sem o ser ...
Sou a que chora sem saber porquê ...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!
(Florbela Espanca)
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Infância Roubada
Ferro e concreto separam desejo e realidade
a vida acorrentada ao relógio
determina até o horário de ir ao banheiro
em certa hora da noite, só lhe resta o travesseiro.
O sol cortado pelas grades
não ofusca o brilho nos olhos do menino
as mãos seguram com firmeza cada barra
esperando contar as pedras perdidas na calçada
Na rua outros cantam, correm, gritam
e ali, o aliado da tristeza apelas olha.
Imagina que um dia seu mundo será tão grande
quanto à distancia até a esquina.
Vendo os carros passarem
se pergunta por quê foi condenado?
Por quê não nasceu como pássaro?
Por quê? Por quê? Por quê...
Por quê estava ali enjaulado?
Sendo que único mau foi ter nascido urbanizado.
Isso mesmo, enquanto uns batem no peito
com orgulho de serem acinzentados
outros, com olhos lunares se tornam sedentários
engolindo o desejo enigmático de fazer o asfalto
sentir o calor de seus livres pés descalços...
(André - Universo em translação)
a vida acorrentada ao relógio
determina até o horário de ir ao banheiro
em certa hora da noite, só lhe resta o travesseiro.
O sol cortado pelas grades
não ofusca o brilho nos olhos do menino
as mãos seguram com firmeza cada barra
esperando contar as pedras perdidas na calçada
Na rua outros cantam, correm, gritam
e ali, o aliado da tristeza apelas olha.
Imagina que um dia seu mundo será tão grande
quanto à distancia até a esquina.
Vendo os carros passarem
se pergunta por quê foi condenado?
Por quê não nasceu como pássaro?
Por quê? Por quê? Por quê...
Por quê estava ali enjaulado?
Sendo que único mau foi ter nascido urbanizado.
Isso mesmo, enquanto uns batem no peito
com orgulho de serem acinzentados
outros, com olhos lunares se tornam sedentários
engolindo o desejo enigmático de fazer o asfalto
sentir o calor de seus livres pés descalços...
(André - Universo em translação)
Só de sacanagem - Elisa Lucinda
Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam
entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo
duramente para educar os meninos mais pobres que eu,
para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus
pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e
eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança
vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança
vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o
aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus
brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao
conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e
dos justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolvao lápis do coleguinha",
"Esse apontador não é seu, minha filhinha".
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido
que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca
tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica
ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao
culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do
meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todoo mundo rouba"
e eu vou dizer: Não importa, será esse
o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez.
Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a
quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o
escambau.
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde
o primeiro homem que veio de Portugal".
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gentequiser, vai dá para mudar o final!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam
entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo
duramente para educar os meninos mais pobres que eu,
para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus
pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e
eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança
vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança
vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o
aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus
brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao
conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e
dos justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolvao lápis do coleguinha",
"Esse apontador não é seu, minha filhinha".
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido
que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca
tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica
ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao
culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do
meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todoo mundo rouba"
e eu vou dizer: Não importa, será esse
o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez.
Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a
quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o
escambau.
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde
o primeiro homem que veio de Portugal".
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gentequiser, vai dá para mudar o final!
domingo, 24 de agosto de 2008
Efémero Paradoxo
E é quando me procuro
que me perco diante à ti
resquícios de um alegre passado
que hoje não me faz sorrir
Grandiosos dizeres e juras
emudecidos pelos elos partidos
desconhecido Eu que se mantémdiante à você,
esse você que eu não criei
Domina-me livrando-me de me prender à algo ou alguém
Dia-a-dia dividindo meus sentimentos
sem o intuito de compreende-los
Esse Eu-Você que foi criado
que me intriga, que me enlouquece
Esse Você-Eu, que não somemesmo quando quebro o espelho
És parte de mim
esse Eu que não sai de ti
mas o que queres?
Minha vida ou meu fim?
(André - Universo em translação)
que me perco diante à ti
resquícios de um alegre passado
que hoje não me faz sorrir
Grandiosos dizeres e juras
emudecidos pelos elos partidos
desconhecido Eu que se mantémdiante à você,
esse você que eu não criei
Domina-me livrando-me de me prender à algo ou alguém
Dia-a-dia dividindo meus sentimentos
sem o intuito de compreende-los
Esse Eu-Você que foi criado
que me intriga, que me enlouquece
Esse Você-Eu, que não somemesmo quando quebro o espelho
És parte de mim
esse Eu que não sai de ti
mas o que queres?
Minha vida ou meu fim?
(André - Universo em translação)
Os Ombros Suportam o Mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
(Carlos Drummond de Andrade)
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
(Carlos Drummond de Andrade)
Meu Grande Poema
Quando os homens tiverem tempo
de ouvir música
de cuidar de seus jardins
me encontrareis cantando
um grande poema
Quando forem destruídos os preconceitos
quando as mulheres puderem sorrir
para todos os homens
me encontrareis cantando
um grande poema
Quando houver trabalho livre
quando for franco o amor
me encontrareis cantando
um grande poema
(Solano Trindade)
de ouvir música
de cuidar de seus jardins
me encontrareis cantando
um grande poema
Quando forem destruídos os preconceitos
quando as mulheres puderem sorrir
para todos os homens
me encontrareis cantando
um grande poema
Quando houver trabalho livre
quando for franco o amor
me encontrareis cantando
um grande poema
(Solano Trindade)
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