domingo, 27 de setembro de 2009

Descansa coração

Cansei de tanto procurar
Cansei de não achar
Cansei de tanto encontrar
Cansei de me perder

Hoje eu quero somente esquecer
Quero corpo sem qualquer querer
Tenho os olhos tão cansados de te ver
Na memória, no sonho e em vão
Não sei pra onde vou
Não sei se vou ou vou ficar
Pensei não quero mais pensar
Cansei de esperar

Agora nem sei mais o que querer
E a noite não tarda pra nascer
Descansa coração
E bate em paz 
 
(Fernanda Takai)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Sereneta

" ... Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.
Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo ... "
(Cecília Meireles)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Se cada dia cai

Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

Há de sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caida
com paciência

(Pablo Neruda)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Embalada num sonho aurifulgente
Sei apenas que sonho vagamente
Ao avistar, amor, teus olhos belos,

Em castelãs altivas, medievais,
Que choram às janelas ogivais,
Perdidas em românticos castelos!
(Florbela Espanca)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Em suspenso

Ter a vida em suspenso
um quase nada
beira do abismo
encruzilhada...

Ter a vida em suspenso
fragilidade e tensão
os dados na mesa
sem cartas nas mãos.

Ter a vida em suspenso
suspiro congelado
desespero mascarado
pensamentos a rondar:

Sou tão pouco
um quase nada
diante da vida
de sentença anunciada...

É abrir os braços
e esperar o vento
rezar baixinho
num fio de voz.

Esperar em Deus
que se vá o tormento
E se houver algum sol
que ele brilhe por nós...

(Edilene Santos)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Doce milagre

O dia chora. Agonizo
Com ele meu doce amor.
Nem a sombra dum sorriso,
Na Natureza diviso,
A dar-lhe vida e frescor!

A triste bruma, pesada,
Parece, detrás da serra
Fina renda, esfarrapada,
De Malines, desdobrada
Em mil voltas pela terra!

(O dia parece um réu.
Bate a chuva nas vidraças.)

As avezitas, coitadas,
‘Squeceram hoje o cantar.
As flores pendem, fanadas
Nas finas hastes, cansadas
De tanto e tanto chorar…

O dia parece um réu.
Bate a chuva nas vidraças.
É tudo um imenso véu.
Nem a terra nem o céu
Se distingue. Mas tu passas…

E o sol doirado aparece.
O dia é uma gargalhada.
A Natureza endoidece
A cantar. Tudo enternece
A minh’alma angustiada!

Rasgam-se todos os véus
As flores abrem, sorrindo.
Pois se eu vejo os olhos teus
A fitarem-se nos meus,
Não há de tudo ser lindo?!

Se eles são prodigiosos
Esses teus olhos suaves!
Basta fitá-los, mimosos,
Em dias assim chuvosos,
Para ouvir cantar as aves!

A Natureza, zangada,
Não quer os dias risonhos?…
Tu passas… e uma alvorada
Pra mim abre perfumada,
Enche-me o peito de sonhos!

(Florbela Espanca)