quinta-feira, 23 de maio de 2013

Oração dos desesperados


Dói no povo a dor do universo
Chibata, faca e corte
Miséria, morte
Sob o olhar irônico
De um Deus inverso
Uma dor que tem cor
Escorre na pele e na boca se cala
Uma gente livre para o amor
Mas os pés fincados na senzala.
Dói na gente a dor que mata
Chaga que paralisa o mundo
E sob o olhar de um Deus de
gravata...
Doença, fome, esgoto, inferno
profundo.
Dor que humilha, alimenta cegueira
Trevas, violência, tiro no escuro
Pedaço de pau, lar sem muro
Paraíso do mal
Castelo de madeira
Oh! Senhores
Deuses das máquinas,
Das teclas, das perdidas almas
Do destino e do coração!
Escuta o homem que nasce das
Lágrimas
Da dor, do sangue e do pranto,
Escuta esse pranto
(Que lindo esse povo)
(Quilombo esse povo)
Que vem a galope com voz de
trovão
Pois ele se apega nas armas
Quando se cansa das páginas
Do livro de oração!
(Sérgio Vaz)

domingo, 12 de maio de 2013

Dançando negro

Quando eu danço
atabaques excitados,
o meu corpo se esvaindo
com desejos de espaço,
a minha pele negra
dominando o cosmo,
envolvendo o infinito, o som
criando outros êxtases...
Não sou festa para os teus olhos
de branco diante de um show!
Quando eu danço há infusão dos elementos
sou razão.
O meu corpo não é objeto
Sou revolução,

(Êle Semong)

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Amor invasor

Há muito, não são raros os momentos
Perco-me na vastidão de mim, solitária
E quando este vácuo, do nada se instala
Arrasta-me inerte, perdida, sem alento

Então por tantos desejos vagueio louca
E pela voz rouca deixo-me seduzir
Lança insano convite, um amor alienado
Num chamado de entrega nua e tosca

Deixo-me ir à força de um vento qualquer
A mulher que há em mim intui a suavidade
A eternidade da entrega é musica ao ouvido
E o fascínio selvagem, é tudo o que se quer

É certo que é passageiro este momento pleno
Mas o íntimo necessita deste letal veneno

(Glória Salles)