quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Olhar baldio

No remate deste horizonte, um enigma
E nesta visão tão desejada, leio emoções
Não é alucinação, a lembrança, o estigma
Ainda que tênue, esta luz expõem ilusões

De nada vale o olhar baldio do meu desdém
E a arrogante tradução interditada da voz
Os restos deste lamento trancado, agora vem
Nos ecos das palavras, ditas por nos

No balanço perspicaz das ondas, a resposta
Pensamento embriagado pela branda aragem
A harmonia acontece, pela natureza proposta
A placidez entre a tempestade e a estiagem

Um poema em tom afável o coração rabisca
Maquiando o sonho que meu olhar avista...

(Glória Salles)

Sem palavras

Trago um poema farto de incertezas
Ressoando farpado e monótono canto
Cujas letras, isentas de qualquer leveza
Soam atravessadas, sem o menor encanto

Trago idéias em frases curtas, resumidas
Seguimento vão, que coisa alguma traduz
Emoções sangram, esgarçadas, sentidas
Sob a casca tênue de um verso que não seduz

Frases derribadas nos barrancos do soneto
Reverberando os ais que da alma transborda
Esquecidas em meio a um e outro terceto
Entre tantas rimas, que a poesia não acorda

Talvez amanhã, as palavras que não escrevi
Revelem a verdade, daquelas que não proferi

(Glória Salles)

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Fluido

Daqui onde céu e mar se encontram
observo o que restou de nós
na garganta o grito que ainda não se cala
no peito aquele vazio que a tarde visita
saudade
No ar, o cheiro de tudo que é novo
os caminhos, os domingos, os sorrisos
no chão os mesmos pés orientando a pisada
bucolismo maloqueiro...
Aqui, onde me encontro agora
faço tempo pro dia não virar hora
no suor o mesmo sangue
na saliva a mesma fome
E o morro me olha,
e me vejo morro
no vento que em mim passeia
noticias de outrora
daqui onde tempestade me recria
deságuo corredeira
lagrima fria pro mar que não se finda em mim...
(André Pereira)

Ilusão

Em meu peito corre um rio
Rio que corre em direção ao mar
Mar que deságua em meus sonhos
Sonhos que miram o brilho da luz
Luz que clareia o escuro caminho
Caminho que adverte o destino
Destino que levo comigo
Comigo levo as flores que você plantou
Flores que colhi na primavera
Primavera que trago nas mãos
Mãos que afagam a terra
Terra que sustenta meu corpo
Corpo que dança no espaço
Espaço que limito no coração
Coração que brinca no infinito
Infinito que são seus braços
Braços que são correntes de carne
Carne que acorrenta o espírito
Espírito que é fuga da prisão
Prisão que são as margens do rio
Rio que corre em meu peito
Peito que se liberta da realidade
Que comprime a ilusão.

(Sérgio Vaz)