sábado, 24 de janeiro de 2009

Fumo

Longe de ti são ermos os caminhos.
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são outonos: choram... choram...
Há crisantemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...

(Florbela Espanca)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Sonhar de sonhar

Gostaria de sair caminhando
por aí,
entre notas musicais,
sozinha, olhos, fechados, sonhando...
...em sonhar cada vez mais!...
Gostaria de, no meio da escala,
encontrar-te assim, de repente,
e que as notas
te dissessem tudo o que sente
essa caixa de rimas sem jeito,
da forma precisa de um coração,
que me bate louca dentro do peito!
E que, depois de tudo te falar,
cantasse, numa linda canção,
todo esse acorde de amores
que guardei para te dar!...
(Mariza Fontes de Almeida)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Eu queria...

Perder-me em seu olhar tímido
Sentir seus lábios suaves de novo
Poder te abraçar sem receio
de que alguém venha a se ferir...

Demonstrar tudo o que sinto sem medo
Mostrar-te que eu posso e quero
fazer você feliz!
(Maria Helena)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Gravidez

Gravidez

Nasceu em mim
acalentei
sonhei nosso futuro
imaginei como seria
a cada dia tomava mais meu espaço
primeiro o desespero
depois o desejo
a necessidade
cantei pro seus sonos
fomos um por muito tempo
veio ao mundo
amamentei
criei
tentei educar
o tempo foi passando
a criança se tornou adolescente
adulta foi pra vida
me deixou sangrando
quando em lágrimas me disse:
desculpe amor,
mas eu sua metade
decidi que agora é hora
e eu parto...
e então meu amor morreu
diante a possibilidade de ver outro nascer!
(André)

domingo, 4 de janeiro de 2009

O ciclone

Choro
E as águas que minam em meus olhos
E irrigam as minhas rugas
Buscam nestas fugas
Se afastarem da tristeza
Mas como?
Se a angústia tem nas lágrimas
a sua fortaleza?

Conto a ti a minha dor
se não te moves para tanto
Levo a ti, em versos, o meu amor

Rompeste nosso elo
Resquício, frangalho, farelo...
Já não sou uma unidade
apenas fragmentos
mas ainda pulsa o órgão cardíaco
bombeando sentimentos
aumentando a gravidade
e no crepúsculo da vida
me venceu a enfermidade

Que chovam então serestas
e palestras te dêem conta
do quão grande é a nostálgia
dos meus olhos, já cinzentos
Pela lacrimorragia a banhar a minha face
pois no enlance de um curto matrimônio
assim como o demônio a fugir da santa cruz
me deixaste e apagaste a minha luz
logrando o meu amor
até que eu chegasse ao fim
dizendo não com o teu furor
ao mais sincero sim

Te escrevi este gazel
acreditando se ainda gostares
deste pobre menestrel
ouvirá estes versos entrestecidos
como o afã da tua alma
muito além dos teus ouvidos
mas se acaso ignorares essa nobre confissão
não creio que muito me reste
mas mesmo no lúgubre leito
é possível que, no peito, o amor se manifeste
E quando a morte então chegar
para levar-me como um ciclone
antes do último suspiro
sorrindo, direi seu nome.
(Serginho Poeta)