quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Labirintos

Entrei dentro do meu eu
em busca de boas lembranças
na esperança de encontrar
as entradas e saídas dos meus
labirintos...
Revisitar estradas conhecidas,
admirar paisagens errantes,
olhar-me no meu pequeno espelho,
refletir ou reagir aos meus ruídos,
abrir bem os ouvidos para
escutar os meus passos...
Cantar aquela canção que
acende todas as possíveis lutas.

(Elizandra Souza # Águas da cabaça # 2012)

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

2013

Há sempre um acreditar
maior, levando-nos
na teima a prosseguir

Firmados nas raízes fundadoras
prontas a tecer a ventania
feita de ideais e de porvir
de vontade, de sonho e poesia

Pois existe um voo e um lutar
uma batalha pronta a impedir
a violência, o medo, o proibir

Há sempre um acreditar
maior, levando-nos
na teima a resistir

Exigindo o direito a inventar
um outro futuro a construir
apesar do vender e do roubar

Pois existe uma constância
em desagravo, outros modos
de amar, outra maneira
a fazer da vida um canto aberto

E da liberdade uma bandeira

(Maria Teresa Horta,poetisa, escritora e jornalista portuguesa)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

"Oh sim"

Há coisas piores do que
ficar sozinho
mas isso, frequentemente, leva décadas
para ser percebido
e, geralmente,
quando você percebe,
é tarde demais
e não há nada pior
do que
tarde demais.


(Charles Bukowisk)
Tradução: Aline Dias

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Fazer da areia, terra e água uma canção
Depois, moldar de vento a flauta
que há de espalhar esta canção
Por fim tecer de amor lábios e dedos
que a flauta animarão
E a flauta, sem nada mais que puro som
envolverá o sonho da canção
por todo o sempre, neste mundo


(Carlos Drummond de Andrade) 

Receita de ano novo

 Meio clichê começar o ano com uma poesia que fala sobre ano novo, mas esta é impossível não querer postá-la rs



    Para você ganhar belíssimo Ano Novo
    cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
    Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
    (mal vivido ou talvez sem sentido)
    para você ganhar um ano
    não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
    mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
    novo até no coração das coisas menos percebidas
    (a começar pelo seu interior)
    novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
    mas com ele se come, se passeia,
    se ama, se compreende, se trabalha,
    você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
    não precisa expedir nem receber mensagens
    (planta recebe mensagens?
    passa telegramas?).
    Não precisa fazer lista de boas intenções
    para arquivá-las na gaveta.
    Não precisa chorar de arrependido
    pelas besteiras consumadas
    nem parvamente acreditar
    que por decreto da esperança
    a partir de janeiro as coisas mudem
    e seja tudo claridade, recompensa,
    justiça entre os homens e as nações,
    liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
    direitos respeitados, começando
    pelo direito augusto de viver.
    Para ganhar um ano-novo
    que mereça este nome,
    você, meu caro, tem de merecê-lo,
    tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
    mas tente, experimente, consciente.
    É dentro de você que o Ano Novo
    cochila e espera desde sempre.

(Carlos Drummond de Andrade)