(para Lídia, minha velha ama negra)
Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra desce com ela.
Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guizos
nas suas mãos apertadas...
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...
tem voz de noite descendo
de mansinho pela estrada.
... Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...
Mãe-Negra não sabe nada.
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo,
Mãe-Negra...
É que os meninos cresceram,
e esqueceram
as histórias
que costumavas contar...
Muitos partiram pra longe,
quem sabe se hão de voltar!...
Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaços,
bem quieta, bem calada...
É tua a voz deste vento,
desta saudade descendo
de mansinho pela estrada...
(Alda Lara)
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
Atitude
Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.
O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.
Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.
E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes
(Cecilia Meireles)
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.
O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.
Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.
E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes
(Cecilia Meireles)
A voz
Da tua voz
o corpo
o tempo já vencido
os dedos que me
vogam
nos cabelos
e os lábios que me
roçam pela boca
nesta mansa tontura
em nunca tê-los...
Meu amor
que quartos na memória
não ocupamos nós
se não partimos...
Mas porque assim te invento
e já te troco as horas
vou passando dos teus braços
que não sei
para o vácuo em que me deixas
se demoras
nesta mansa certeza que não vens.
(Maria Teresa Horta)
o corpo
o tempo já vencido
os dedos que me
vogam
nos cabelos
e os lábios que me
roçam pela boca
nesta mansa tontura
em nunca tê-los...
Meu amor
que quartos na memória
não ocupamos nós
se não partimos...
Mas porque assim te invento
e já te troco as horas
vou passando dos teus braços
que não sei
para o vácuo em que me deixas
se demoras
nesta mansa certeza que não vens.
(Maria Teresa Horta)
Galeria Lírica VII
Pétala
Que
Se abre-me
No espaço
Inútil-do-dia?
Mostra-me
O lastro
Ensina-se
-me a
Voltar
Faz-me
-se
Esquecer
O
Que
Ainda
Não
Somos
(Edner Morelli, do Livro Hiato)
Que
Se abre-me
No espaço
Inútil-do-dia?
Mostra-me
O lastro
Ensina-se
-me a
Voltar
Faz-me
-se
Esquecer
O
Que
Ainda
Não
Somos
(Edner Morelli, do Livro Hiato)
Galeria Lírica IV
No ritmo sóbrio
De suas certezas
Integro-me
Interno-me
Na carne
No espaço
Dança
Solidamente
Momentânea do gozo
Incitando o gosto lascivo
De suas virtudes
Que inauguram o
Movimento de
Seus lá
Bios
Da pele
Da unidade
Da enfermidade
Erótica
Do ritmo
Ainda que
Sóbrio
Sobro
Só?
(Edner Morelli, do livro Hiato)
De suas certezas
Integro-me
Interno-me
Na carne
No espaço
Dança
Solidamente
Momentânea do gozo
Incitando o gosto lascivo
De suas virtudes
Que inauguram o
Movimento de
Seus lá
Bios
Da pele
Da unidade
Da enfermidade
Erótica
Do ritmo
Ainda que
Sóbrio
Sobro
Só?
(Edner Morelli, do livro Hiato)
Galeria Lírica II
O eu e o outro
O outro em mim?
O acaso de mim? A verdade bi
Lateral de nós?
A suposta dança da integração
Entre a ficção e o real do outro
Vidas supostas e
Definidas pelo avesso do real
A face da (inter) ficção
Agindo pelo contrário
Da concreta imagem
A ficção - vida fundindo-se-me
Nos anseios de mim? Do outro?
A vida
O eu
O outro
Nós
(Edner Morelli, retirado do livro Hiato)
O outro em mim?
O acaso de mim? A verdade bi
Lateral de nós?
A suposta dança da integração
Entre a ficção e o real do outro
Vidas supostas e
Definidas pelo avesso do real
A face da (inter) ficção
Agindo pelo contrário
Da concreta imagem
A ficção - vida fundindo-se-me
Nos anseios de mim? Do outro?
A vida
O eu
O outro
Nós
(Edner Morelli, retirado do livro Hiato)
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
Aquilombados
É dos olhos que sai o mar efervescente dos aquilombados
É do mar que sai os olhos efervescentes dos aquilombados
Nossas vozes, nossos tons são peles aparceiradas
É necessário profundidade pra imantar da terra verdades
Somos língua viva botando fogo no sereno
Na feira, no ônibus, na roda tem
Na fila, no trânsito, elevador também
Com suavidade, com feminilidade, com tudo que houver
necessidade
Observo enquanto errando acerto
Na São Paulo camaleão feminina, da norte mesmo ao sul
extremo
Salves! A quem deve ser saudado
Minha terra tem fagulhas que me fazem enxergar que amor
é inteligência
É preciso exercitar.
(Maria Tereza do livro "Negrices em flor")
É do mar que sai os olhos efervescentes dos aquilombados
Nossas vozes, nossos tons são peles aparceiradas
É necessário profundidade pra imantar da terra verdades
Somos língua viva botando fogo no sereno
Na feira, no ônibus, na roda tem
Na fila, no trânsito, elevador também
Com suavidade, com feminilidade, com tudo que houver
necessidade
Observo enquanto errando acerto
Na São Paulo camaleão feminina, da norte mesmo ao sul
extremo
Salves! A quem deve ser saudado
Minha terra tem fagulhas que me fazem enxergar que amor
é inteligência
É preciso exercitar.
(Maria Tereza do livro "Negrices em flor")
sábado, 9 de fevereiro de 2013
Identidade(s)
Sou dois mundos.
Isso já foi acordado.
Uma eu sou leve, alegre, amiga, disposta...
Agora a minha outra eu,
aquela que raras pessoas conhecem,
aquela que várias vezes elouquece
e desabafa nos textos verdades inquestionáveis,
vontades embaraçosas, segredos só seus;
essa já não é tão feliz.
Não, ela não é feliz.
Não na maneira convencional estabelecida.
Não no senso comum.
Ela é qualquer outra coisa menos sorriso,
menos fachada, menos ombro amigo.
Essa é sozinha, mas às vezes ela sorri, sim.
Sorri quando coloca pra fora aquelas bobagens
que todos devem pensar,
mas não chegam a verbalizar.
Surtar.
A minha eu desenquadrada se dá ao luxo de surtar.
Não se acanha com possíveis pensamentos
e nem pensa em servir de exemplo pra ninguém.
Que se dane ninguém!
Ela é livre, assim como a minha eu
tão feliz gostaria de ser.
A liberdade inexistente sem a limitação necessária
pra viver em sociedade.
Às vezes, como hoje, por exemplo,
bate uma tristeza tão grande,
uma vontade tão desesperada de chorar
e gritar e uivar as minhas penas...
Mas não dá. Não posso assustar os que me rodeiam.
Não tem ninguém aqui que possa me consolar
sem me cobrar a alegria que tanto parece comigo.
Existem só essas brigas de eus,
onde não importa quem ganhe,
eu sempre perco.
( Mel Adún - Cadernos Negros 31)
Isso já foi acordado.
Uma eu sou leve, alegre, amiga, disposta...
Agora a minha outra eu,
aquela que raras pessoas conhecem,
aquela que várias vezes elouquece
e desabafa nos textos verdades inquestionáveis,
vontades embaraçosas, segredos só seus;
essa já não é tão feliz.
Não, ela não é feliz.
Não na maneira convencional estabelecida.
Não no senso comum.
Ela é qualquer outra coisa menos sorriso,
menos fachada, menos ombro amigo.
Essa é sozinha, mas às vezes ela sorri, sim.
Sorri quando coloca pra fora aquelas bobagens
que todos devem pensar,
mas não chegam a verbalizar.
Surtar.
A minha eu desenquadrada se dá ao luxo de surtar.
Não se acanha com possíveis pensamentos
e nem pensa em servir de exemplo pra ninguém.
Que se dane ninguém!
Ela é livre, assim como a minha eu
tão feliz gostaria de ser.
A liberdade inexistente sem a limitação necessária
pra viver em sociedade.
Às vezes, como hoje, por exemplo,
bate uma tristeza tão grande,
uma vontade tão desesperada de chorar
e gritar e uivar as minhas penas...
Mas não dá. Não posso assustar os que me rodeiam.
Não tem ninguém aqui que possa me consolar
sem me cobrar a alegria que tanto parece comigo.
Existem só essas brigas de eus,
onde não importa quem ganhe,
eu sempre perco.
( Mel Adún - Cadernos Negros 31)
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
A Esperança e a Felicidade
Sinto a vida pulsar novamente
Assim, como um súbito milagre
Recobro o sentido ausente
E minha alma, enferma, reage
Caminho agora entre as ruínas
Esquinas de escombros e dores
Que o tempo, cruel, deixou
Parte do que sou
Jaz n’alguma rua
Descansa, sem paz ou esperança
Outra parte continua
Vejo perder-se ao relento
A fuligem que assopro
Da palma da minha mão
Dou as costas ao vento
E fecho a porta do templo
Onde habita a solidão
São duas flores frondosas
Brotando no mesmo jardim
Duas irmãs graciosas
Renascendo dentro de mim
A esperança é a suave brisa
Que beija a minha janela
A felicidade o leve orvalho
Que cai sobre o meu telhado
Uma, sincera me avisa
Para que eu não me perca mais dela
A outra, diz tardo, não falho
A quem me tem desejado.
(Serginho poeta)
Assim, como um súbito milagre
Recobro o sentido ausente
E minha alma, enferma, reage
Caminho agora entre as ruínas
Esquinas de escombros e dores
Que o tempo, cruel, deixou
Parte do que sou
Jaz n’alguma rua
Descansa, sem paz ou esperança
Outra parte continua
Vejo perder-se ao relento
A fuligem que assopro
Da palma da minha mão
Dou as costas ao vento
E fecho a porta do templo
Onde habita a solidão
São duas flores frondosas
Brotando no mesmo jardim
Duas irmãs graciosas
Renascendo dentro de mim
A esperança é a suave brisa
Que beija a minha janela
A felicidade o leve orvalho
Que cai sobre o meu telhado
Uma, sincera me avisa
Para que eu não me perca mais dela
A outra, diz tardo, não falho
A quem me tem desejado.
(Serginho poeta)
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