Eu gosto muito desse poema do André!
Meu coração é assim também...
Meu coração é um cortiço
abriga a todos
branco, preto,
amarelo, vermelho
meu coração é um cortiço
cheio de bagunça
cheio de crenças
alegria, tristeza
meu coração não difere
é sempre acolhedor
bate em meu peito
tal brasileiro que sou
meu coração,
cortiço por vocação
guarda risadas e prantos
e mesmo cheio sempre
abre espaço pra mais um
meu coração, de criança ou ancião
inveja os olhos quistos...
mas não foi feito para curtição
por isso, logo aviso
matenha distância,
se acaso não for bem vindo
(André Luiz Pereira)
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Horas
Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.
Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.
E dormem mil gestos nos meus dedos.
Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.
Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.
E de novo caminho para o mar.
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.
Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.
E dormem mil gestos nos meus dedos.
Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.
Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.
E de novo caminho para o mar.
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
A falta que ama
Entre areia, sol e grama
o que se esquiva se dá,
enquanto a falta que ama
procura alguém que não há.
Está coberto de terra,
forrado de esquecimento.
Onde a vista mais se aferra,
a dália é toda cimento.
A transparência da hora
corrói ângulos obscuros:
cantiga que não implora
nem ri, patinando muros.
Já nem se escuta a poeira
que o gesto espalha no chão.
A vida conta-se inteira,
em letras de conclusão.
Por que é que revoa à toa
o pensamento, na luz?
E por que nunca se escoa
o tempo, chaga sem pus?
O inseto petrificado
na concha ardente do dia
une o tédio do passado
a uma futura energia.
No solo vira semente?
Vai tudo recomeçar?
É falta ou ele que sente
o sonho do verbo amar?
(Carlos Drummond de Andrade)
o que se esquiva se dá,
enquanto a falta que ama
procura alguém que não há.
Está coberto de terra,
forrado de esquecimento.
Onde a vista mais se aferra,
a dália é toda cimento.
A transparência da hora
corrói ângulos obscuros:
cantiga que não implora
nem ri, patinando muros.
Já nem se escuta a poeira
que o gesto espalha no chão.
A vida conta-se inteira,
em letras de conclusão.
Por que é que revoa à toa
o pensamento, na luz?
E por que nunca se escoa
o tempo, chaga sem pus?
O inseto petrificado
na concha ardente do dia
une o tédio do passado
a uma futura energia.
No solo vira semente?
Vai tudo recomeçar?
É falta ou ele que sente
o sonho do verbo amar?
(Carlos Drummond de Andrade)
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Epigrama nº8
Encostei-me a ti,
sabendo que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem,
depus minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me
ao teu destino frágil,
Fiquei sem poder chorar quando cai.
(Cecilia Meireles)
sabendo que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem,
depus minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me
ao teu destino frágil,
Fiquei sem poder chorar quando cai.
(Cecilia Meireles)
domingo, 12 de dezembro de 2010
Tem dias
Tem dias em que me perco em meus enigmas.
Quando consigo contrafazer imensa lacuna
Aturdida vou rabiscando versos sem rimas
Sentimentos peregrinam em densa bruma
Para o oculto do que sinto, sou rota medida.
Sou esfinge nebulosa, sem definição precisa.
Nem as estrelas conseguem indicar a saída
Desse labirinto de interrogações concisas
As certezas pousam ao relento na madrugada
Na oponente palidez dos meus subterfúgios
Exausta de me esquivar nos atalhos da estrada
Esquadrinho atalhos nos atemporais refúgios
À procura de mim saio num nômade mergulho
Não me vejo, mas em sedenta busca, me procuro.
(Glória Salles)
Quando consigo contrafazer imensa lacuna
Aturdida vou rabiscando versos sem rimas
Sentimentos peregrinam em densa bruma
Para o oculto do que sinto, sou rota medida.
Sou esfinge nebulosa, sem definição precisa.
Nem as estrelas conseguem indicar a saída
Desse labirinto de interrogações concisas
As certezas pousam ao relento na madrugada
Na oponente palidez dos meus subterfúgios
Exausta de me esquivar nos atalhos da estrada
Esquadrinho atalhos nos atemporais refúgios
À procura de mim saio num nômade mergulho
Não me vejo, mas em sedenta busca, me procuro.
(Glória Salles)
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Interrogação
Neste tormento inútil, neste empenho
De tornar em silêncio o que em mim canta,
Sobem-me roucos brados à garganta
Num clamor de loucura que contenho.
Ó alma da charneca sacrossanta,
Irmã da alma rútila que eu tenho,
Dize para onde eu vou, donde é que venho
Nesta dor que me exalta e me alevanta!
Visões de mundos novos, de infinitos,
Cadências de soluços e de gritos,
Fogueira a esbrasear que me consome!
Dize que mão é esta que me arrasta?
Nódoa de sangue que palpita e alastra…
Dize de que é que eu tenho sede e fome?!
(Florbela Espanca)
De tornar em silêncio o que em mim canta,
Sobem-me roucos brados à garganta
Num clamor de loucura que contenho.
Ó alma da charneca sacrossanta,
Irmã da alma rútila que eu tenho,
Dize para onde eu vou, donde é que venho
Nesta dor que me exalta e me alevanta!
Visões de mundos novos, de infinitos,
Cadências de soluços e de gritos,
Fogueira a esbrasear que me consome!
Dize que mão é esta que me arrasta?
Nódoa de sangue que palpita e alastra…
Dize de que é que eu tenho sede e fome?!
(Florbela Espanca)
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
As horas
Inútil querer-me devagar, o tempo não espera.
Alheios a minha vontade, os ponteiros avançam.
E nessa corrida louca, sinto-me peregrina.
Incapaz, diante dos minutos que se escoam.
Quase surto, diante de tamanha indiferença.
E o relógio, num movimento cíclico e caótico.
Constantemente mostra - me atrasada
E que nada estanca o universo pragmático.
Implacável, o ponteiro não atende meu pedido.
E fugazes, os momentos extinguem, evaporam.
E mesmo que tente dominá-los não consigo.
O relógio ignora a saudade latente, o pedido.
De conversa sem pressa, de caminhar sem destino.
De segurar a vida, e resgatar sonhos perdidos.
(Glória Sales)
Alheios a minha vontade, os ponteiros avançam.
E nessa corrida louca, sinto-me peregrina.
Incapaz, diante dos minutos que se escoam.
Quase surto, diante de tamanha indiferença.
E o relógio, num movimento cíclico e caótico.
Constantemente mostra - me atrasada
E que nada estanca o universo pragmático.
Implacável, o ponteiro não atende meu pedido.
E fugazes, os momentos extinguem, evaporam.
E mesmo que tente dominá-los não consigo.
O relógio ignora a saudade latente, o pedido.
De conversa sem pressa, de caminhar sem destino.
De segurar a vida, e resgatar sonhos perdidos.
(Glória Sales)
domingo, 5 de dezembro de 2010
Intrínseco poema
Eu escrevo minhas angústias
relato passo-a-passo meus desejos
De estudos do universo
à translações poéticas
Tornei infinita minha vivenda.
Com os pés na realidade
tateio o ar à procura dos meus sonhos
lanço ao vento palavras e pensamentos
Me procuro, me acho, me despeço de mim.
Sou corredeira
não me acostumo com mesmíces
Pra alguns sou passado
pra outros esperança.
Carrego o fardo das tristezas que causei
e as lembranças dos sorrisos que ganhei
Imprevisível
Não tento prever mais nada do mundo, nem da vida, nem das pessoas
Das batalhas trago minhas cicatrizes e nenhuma medalha
Já fui amado e já fui amante
Hoje sou o que a vida me tornou
Ora poeta ora escritor
ora ator ora espectador.
Quis mudar de vida
quis mudar o mundo
quis mudar as pessoas
Agora quero apenas seguir meu caminho
e ter a honra de olhar pra traz
pra ver a felicidade daqueles a quem deixei meu sorriso.
E quem sabe assim ser bobo
ser guerreiro, ser plebe
ser músico, mágico e bruxo
de um reino que dispensa coroas
Meu próprio reino, um reino em mim!
(André Luiz Pereira)
relato passo-a-passo meus desejos
De estudos do universo
à translações poéticas
Tornei infinita minha vivenda.
Com os pés na realidade
tateio o ar à procura dos meus sonhos
lanço ao vento palavras e pensamentos
Me procuro, me acho, me despeço de mim.
Sou corredeira
não me acostumo com mesmíces
Pra alguns sou passado
pra outros esperança.
Carrego o fardo das tristezas que causei
e as lembranças dos sorrisos que ganhei
Imprevisível
Não tento prever mais nada do mundo, nem da vida, nem das pessoas
Das batalhas trago minhas cicatrizes e nenhuma medalha
Já fui amado e já fui amante
Hoje sou o que a vida me tornou
Ora poeta ora escritor
ora ator ora espectador.
Quis mudar de vida
quis mudar o mundo
quis mudar as pessoas
Agora quero apenas seguir meu caminho
e ter a honra de olhar pra traz
pra ver a felicidade daqueles a quem deixei meu sorriso.
E quem sabe assim ser bobo
ser guerreiro, ser plebe
ser músico, mágico e bruxo
de um reino que dispensa coroas
Meu próprio reino, um reino em mim!
(André Luiz Pereira)
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