segunda-feira, 2 de abril de 2012

Todas as manhãs

Conceição Evaristo, vale a pena conhecer essa grande poeta.


Todas as manhãs acoito sonhos
e acalento entre a unha e a carne
uma agudíssima dor.

Todas as manhãs tenho os punhos
sangrando e dormentes
tal é a minha lida
cavando, cavando torrões de terra,
até lá, onde os homens enterram
a esperança roubada de outros homens.

Todas as manhãs junto ao nascente dia
ouço a minha voz-banzo,
âncora dos navios de nossa memória.
E acredito, acredito sim
que os nossos sonhos protegidos
pelos lençóis da noite
ao se abrirem um a um
no varal de um novo tempo
escorrem as nossas lágrimas
fertilizando toda a terra
onde negras sementes resistem
reamanhecendo esperanças em nós.
(Conceição Evaristo)

Um comentário:

  1. Caaaaramba! Vale a pena mesmo hein Lena? Sensacional! Maria Helena sempre nos dando uma dose de poesia! Obrigado Leninha!

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