sexta-feira, 24 de abril de 2009

Aquele olhar envolvente,
que com meus olhos cruzou
fez qual estrela cadente:
Mostrou-me a luz... e passou.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Dana

Emaranhado de versos e guerrilhas
o poeta, a poetiza
o guerreiro, a bailarina
o musico, a batalhadora
Lançam ao vento suas rimas
seus olhares, seus amores e dores
Ele daqui ela de lá
ela é a pena e ele o tinteiro
pintam sorrisos
sonham acordes
A geografia os divide
eu apenas assisto
A menina deslocada
O rapaz vislumbrado
a noite é longa
sem morada ela não o quer incomodar
já já o dia chega, ele cedo irá acordar
ela se preocupa
pede abrigo
enquanto isso ele e eu apenas concluímos:
É amigo!
Mal sabe ela que a manhã que chega depois de uma noite em claro
pode ser mais cândida do que o alvo luar....
(André Luiz - Universo em translação/Lágrima Terra)

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Aonde?

Ando a chamar por ti, demente, alucinada,
Aonde estás, amor? Aonde… aonde… aonde?…
O eco ao pé de mim segreda… desgraçada…
E só a voz do eco, irônica, responde!

Estendo os braços meus! Chamo por ti ainda!
O vento, aos meus ouvidos, soluça a murmurar;
Parece a tua voz, a tua voz tão linda
Cantando como um rio banhado de luar!

Eu grito a minha dor, a minha dor intensa!
Esta saudade enorme, esta saudade imensa!
E Só a voz do eco à minha voz responde…

Em gritos, a chorar, soluço o nome teu
E grito ao mar, à terra, ao puro azul do céu:
Aonde estás, amor? Aonde… aonde… aonde?…

(Florbela Espanca)

Balada

Amei-te muito, e eu creio que me quiseste
Também por um instante nesse dia
Em que tão docemente me disseste
Que amavas ‘ma mulher que o não sabia.

Amei-te muito, muito!Tão risonho
Aquele dia foi, aquela tarde!…
E morreu como morre todo o sonho
Deixando atrás de si só a saudade! …

E na taça do amor, a ambrosia
Da quimera bebi aquele dia
A tragos bons, profundos, a cantar…

O meu sonho morreu… Que desgraçada!
………………………………
E como o rei de Thule da balada
Deitei também a minha taça ao mar …

(Florbela Espanca)

Só...

Vejo-me triste, abandonada e só
Bem como um cão sem dono e que o procura,
Mais pobre e desprezada do que Job
A caminhar na via da amargura!

Judeu Errante que a ninguém faz dó!
Minh’alma triste, dolorida e escura,
Minh’alma sem amor é cinza e pó,
Vaga roubada ao Mar da Desventura!

Que tragédia tão funda no meu peito!…
Quanta ilusão morrendo que esvoaça!
Quanto sonho a nascer e já desfeito!

Deus! Como é triste a hora quando morre…
O instante que foge, voa, e passa…
Fiozinho de água triste…a vida corre…

(Florbela Espanca)